No
dia 17 de março, na Escola Secundária de Latino Coelho, pudemos assistir a um
momento pleno de sabedoria e de encontro com as palavras que nos foi
proporcionado pelo senhor Dr. João Paulo Fonseca, professor de Português e de
Literatura Portuguesa. Esta atividade inseriu-se na Semana da Leitura do Agrupamento
de Escolas Latino Coelho, Lamego.
A
paixão e o entusiasmo com que dissertou sobre José Saramago, vida e obra,
através de percursos literários a propósito da obra saramaguiana, despertou a
atenção e o interesse de quem o ouviu. Estaríamos, com toda a certeza, muito
mais tempo para aprendermos sobre este ilustre escritor português e prémio
Nobel da Literatura…
Partilhamos
alguns aspetos mais relevantes da sua intervenção e que gostaríamos de aqui
deixar para todos os que nos leem. Vale a pena a cultura, vale a pena apreciar
estas palavras de sapiência.
Viagem(ns) em
Saramago
Há uma ligação
profunda entre o estilo saramaguiano de escrever a língua portuguesa e a forma
como, oralmente, se conta a história vivida pelas pessoas e, depois, pelas
personagens. Não esquecer, por fim, que este carácter oral advém à escrita
também como consequência do gosto musical do autor e das influências da
oratória vieirina barroca que se evidenciam bastante em obras como Memorial do Convento.
Parte
significativa da obra de Saramago enquadra-se numa longa tradição da história
da literatura: a literatura de viagens. Se tivermos em conta as crónicas
presentes em A Bagagem do Viajante (1973),
as narrativas presentes em Viagem a
Portugal (1981); A Jangada de Pedra
(1986) e a Viagem do Elefante (2008),
constatamos que a força motriz da narrativa (nas três últimas) é a viagem
enquanto processo físico de deslocação entre dois pontos. Mas também a viagem
interior está presente nestas obras, assim como em Todos os Nomes (1997) e O
Homem Duplicado (2002). (…)
A obra literária de José Saramago é o
resultado de um percurso (viagem…) único e irrepetível levado a cabo pelo
primeiro nobel da língua portuguesa. Nela se configuram opções ideológicas
assumidas na primeira pessoa pelo seu autor/narrador, nomeadamente, a
possibilidade – única possibilidade – de o homem corrigir a História no futuro;
a desgraçada nódoa que, em nome de deus, os homens se impõem uns aos outros; a
igualdade fundamental de todos os seres humanos, sem qualquer tipo de
discriminação; o direito igual e fundamental aos bens materiais e amorosos
essenciais a todo o ser humano. Tudo isto está numa obra literária que, sempre
que lida, se continua a fazer ouvir.
Dr.
João Paulo Fonseca
Escola
Secundária de Latino Coelho, Lamego
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